domingo, 24 de janeiro de 2021

O que sobrou de nós

Bom dia, Marina.

Bom dia, Luiza.

Espero que vcs duas estejam bem.

Ontem tentei falar com vcs novamente. Sem resposta. Mais uma ligação não atendida ou, pior ainda, recusada.

Bom. No caso da Marina essa situação vem se arrastando a anos. Mas no seu caso, Luiza, é mais nova. 

Confesso que não ser atendido no ano novo por vocês mudou meus paradigmas sobre nossa relação. 

Eu acho as duas incríveis. Tenho muito orgulho de vocês. Mas também acho que são duas meninas muito inseguras e com uma educação bastante questionável no que tange ao comportamento comigo. Mas sei que a culpa não é de vocês. 

Bom, o que sei é que eu também não forço mais nada. Vocês sabem que estou por aqui quando quiserem ter alguma relação comigo. 

Minha vida, felizmente, mudou bastante nos últimos tempos, para melhor eu acredito. Minhas perspectivas futuras e sensações presentes são muito mais intensas e animadoras. Tenho me sentido muito mais equilibrado. Claro que isso não significa que não existam problemas e coisas a melhorar. 

Eu voltei a ser advogado. Estou tão contente, sabiam!! Algo que nunca tinha praticado objetivamente na vida. Comecei a trabalhar na segunda-feira passada no escritório do Antoniel. Ele tem um escritório de advocacia bastante conceituado e se dispôs a me dar uma oportunidade de trabalhar na área, começando uma nova carreira e aprendendo a prática jurídica. Eu estou realmente muito feliz. Estou trabalhando na área de Direito Civil, mas estudando mais intensamente a parte de Direito do Trabalho. Estou redescobrindo meu amor pelo Direito e também podendo fazer uma coisa que eu gosto muito que é estudar.

É claro que eu não estou começando no topo da carreira. Pelo contrário, estou começando como um advogado júnior, com se fosse recém formado e entrando num escritório pela primeira vez. Isso significa que o meu salário mal dá para pagar as contas mensais. Mas, quanto a isso, tudo bem, porque a gente vai se virando. Eu me sinto grato porque, na situação em que nosso país está aqui, eu consegui um emprego logo de imediato após o fechamento da empresa. Além disto, estou tendo a oportunidade de construir um novo caminho para mim, que possa me trazer uma sensação de satisfação maior e me proporcionar um futuro. Hoje entendo que eu não era feliz como administrador de plano de saúde. Era bom como emprego, eu ganhava bem, eu era empenhado como profissional, era um ambiente de trabalho legal, mas era um trabalho chato. Isso sem falar nos intensos desafios relacionados a minha última chefia. Empreender e ter um negócio próprio foi uma grande experiência, que me fez crescer e amadurecer muito. Mas também trouxe uma visão diferente sobre mim mesmo, minhas deficiências e pontos fortes pessoais, e sobre a questão da escolha de um segmento de trabalho. Eu fui bastante bem sucedido nas minhas análises e em vários aspectos do negócio. Mas, sem dúvida, a pandemia, a falta de acesso a financiamentos adequados e as características específicas do segmentos acabaram me levando a finalizar essa incursão. Talvez o pior de tudo é que eu quis ter sucesso sozinho, provar alguma coisa para mim mesmo. Provar alguma coisa para os outros. Provar que eu não dependia de ninguém (profissionalmente falando). Isso tudo são enganos que cometemos. Enganos que eu cometi. Não deu certo e eu perdi dinheiro. Paguei bem caro para aprender tudo isso. Mas também descobri o que eu não quero!!!    ´

Engraçado é que eu precisei passar por tudo isso para chegar a conclusão que eu adoro o Direito e que eu tenho tudo a ver com essa área! Não sirvo para a medicina. Eu sofro com o sofrimento alheio. E ser empresário precisa de mais reflexão e suporte do que eu busquei. Hoje o Direito me parece um caminho que realmente pode me trazer realização.

Mas é preciso dizer que o tempo como diretor da Laços da Vida me trouxe grandes aprendizados. E uma coisa que eu aprendi na minha experiência na casa de repouso foi a dar valor na vida, ao momento presente, independentemente do dinheiro. Cada bom momento e sentimento que cultivamos e sentimos verdadeiramente é importante. Meus valores mudaram muito depois dessa experiência empresarial e de vida. Pode ter sido extremamente difícil, posso ter perdido todo o dinheiro que tinha e posso não ter obtido o sucesso que desejava. Mas eu amadureci muito, aproximei-me mais da Viviane, conheci pessoas incríveis e fiz sim um excelente trabalho com as minhas idosas. Aliás, tive uma das melhores casas de repouso dessa cidade, sem nenhuma modéstia, enquanto o negócio durou. Mas eu também sofria muito por aquelas pessoas que estavam comigo e isso estava me matando. Além, lógico, de não ter tido o retorno financeiro suficiente para poder continuar. 

Outra coisa eu aprendi com algumas das pessoas que eu cuidei. Relações familiares desestruturadas ou mal resolvidas causam uma vida de sofrimento e dor. Eu nunca optei por isso para a nossa relação filial. Mas é isso que tenho visto vocês fazerem.

Bem, na minha atual condição uma coisa eu preciso pensar. Não tenho dinheiro para viajar aos Estados Unidos, por questões óbvias. Mesmo trabalhando, também vai demorar bastante até que eu possa juntar dinheiro para ir novamente, até mesmo por causa dessa questão cambial que estamos observando. Tem também a pandemia que, de qualquer forma, impede a viagem. Além disto, temos essa situação que vcs não falam comigo, não me atendem, não tem contato nenhum. E, também, não vão vir ao Brasil. Ou seja, nossa relação/contato está praticamente inexistente nesse momento.

Eu optei por não querer mais a intermediação de sua mãe entre nós. Ela sempre me controlou com isso e eu acho que merecia um pouco mais de respeito em relação a minha paternidade. Algo que vejo que nunca existiu para comigo, de forma geral. Eu não questionei isso judicialmente porque eu não gosto de briga. Tive que entrar com o processo do ajuste de pensão por causa da minha situação. Isso será algo que vocês terão que entender ao passarem a limpo a nossa relação. 

Sei que não estive presente em quase nada da vida de vocês. Mas isso também não impede o amor, o querer bem, o manter relações adequadas e sadias. Desculpe, mas agora que vocês estão um pouco maiores, mais velhas, com maior capacidade de pensarem por si só, também precisam lidar com suas próprias escolhas. Vocês não são mais criancinhas manipuladas. Claro que podem ser influenciadas, sem dúvida. Mas são capazes de ter senso crítico das influências. Agora, se vocês não fizerem algo por nós, é porque não querem, ou porque deixam que lhes tirem a vontade de serem vocês mesmas. No presente momento, vocês tem capacidade suficiente para escolherem o que querem em relação a mim, inclusive.

Se vocês pensam algo de mim, por que não dizem para mim? Primeiro exercício para vocês. 

Sempre estarei por aqui. Sempre estarei ligando. Gostaria de saber mais de suas vidas, mas acho que ficar na dependência da sua mãe para isso é muito pouco razoável. A relação agora é entre nós. Quem tem que me falar são vocês duas. Para quem não quer que eu participe nem das redes sociais, como vcs tem feito, os sinais dizem mais do que as palavras.

Talvez vocês possam dizer: "a culpa é sua, Maurício"!

Desculpe desapontá-las, mas a culpa não é minha. 

E sinto dizer também. Sou seu pai, mesmo que geneticamente falando. Vcs nunca vão se livrar disso.

Agora eu vou falar como seu pai mesmo. E, também, como o homem que cuidou de vcs diariamente até 3 aninhos. Limpei a bunda de vocês o suficiente e cumpri minhas obrigações o suficiente para me dar o direito de falar com autoridade sim. Vcs são maravilhosas, mas estão muito mal educadas, rancorosas e confusas, pelo menos no que tange a nossa relação. E, não adianta, a nossa relação afeta a pessoa que vcs são e serão. Portanto, só conversando comigo é que terão a oportunidade de resolver isso. Porque sim, se vocês não falarem comigo, não vão ter uma vida equilibrada realmente. Alguma coisa sempre vai incomodar em vcs. 

Não deixem que isso aconteça.  

Beijos para as duas. Que Deus as abençoe e proteja. 

Maurício 

Seu pai, queiram ou não. 

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