domingo, 19 de junho de 2022
Um poema para vocês duas
quinta-feira, 16 de junho de 2022
O papai morreu
Olá, meninas. Espero que vocês duas estejam bem.
Desculpem-me pelo título
dramático. Mas essa é a conclusão do momento que passamos.
Desde o nosso último encontro, em
11/06/2022, passei por uma montanha russa de sentimento tristes e duros, que
mesmo no pior dos nossos momentos ainda não tinha experimentado. Deparei-me com
a falência absurda de uma relação que poderia (e deveria) ser linda. Deparei-me
com uma frieza de sentimentos e de uma completa falta de clareza no trato com
as relações humanas, que eu não reconheço nos frutos caídos do meu pé.
Sei que a vida nos separou. Sei
que a minha separação da sua mãe me levou para longe de vocês. Sei que a ida da
sua mãe para os Estados Unidos nos distanciou drasticamente e não permitiu que vocês
crescessem próximas de mim. Sei que isso me colocou distante de vocês duas. Mas
nem de perto, num relacionamento mantido por pessoas sadias, isso teria sido
motivo para as coisas se processarem conosco da maneira como se processaram.
Eu sei disso porque tenho o
exemplo vivo dentro de casa, que é a Eduarda. Ela também cresceu longe do pai,
mas mesmo assim manteve e mantém com ele (e com a família dele) uma relação
bonita, próxima, respeitosa, intensa e carinhosa. Esse deveria ser o normal,
mesmo em famílias de pais separados. Estamos no século 21.
Reconheço bem a origem disso tudo
na mente perturbada que as direcionou para tantas coisas, inclusive para serem um
instrumento de vingança barata e punição sem sentido. Teria admirado sua mãe
pela fortaleza dela em reconstruir uma vida fora do país com filhas pequenas (mesmo
que possa ter contado com toda estrutura diferenciada que teve), se ela não
fosse o poço de rancor que é e, especialmente, por manipular seus sentimentos
por mim de uma forma tão horrível. Se vou carregar uma culpa na minha vida,
será não ter demonstrado judicialmente a alienação parental que sofri. Sofri
não, sofremos, porque vocês também sofreram.
Chorei pouquíssimas vezes tão
sentido e dolorido como no sábado, após nosso almoço. Chorei daquele jeito por
perder meu pai, já muitos anos depois dele ter morrido, quando me dei conta do
tamanho da falta que ele me fazia. Chorei daquele jeito pela morte do Dr.
Adilson, um homem que foi como um pai para mim. Chorei muito sentido pela morte
do meu cunhado Zé Antônio, porque ele também representou uma figura paterna minha
e a morte dele foi uma grande perda. Chorei daquele jeito quando me despedi de
vocês, no dia que vocês iam embora viajar para morar nos Estados Unidos. Choro assim
sozinho, de repente, do nada, quando alguma coisa me faz lembrar o buraco que
tenho dentro de mim da falta que sinto de vocês duas. E chorei agora, nesse
sábado, depois de as encontrar.
Minhas filhas, não posso mais sofrer
por não poder ser o pai amoroso que gostaria de ser e de ter sido porque me separei
da sua mãe e vocês são usadas como instrumento de punição por isso. Também já
não posso obrigá-las a manterem uma relação saudável e normal comigo sem que
haja desejo e sinceridade recíprocas. Ver vocês duas indo embora no sábado sem
um abraço, um carinho, depois de mais de dois anos sem nos vermos, foi como uma
despedida para mim. Uma despedida de alguém que perde uma pessoa extremamente
querida. Eu me dei conta de que perdi vocês. No meu coração, foi como se eu
tivesse morrido para vocês.
Mas, no atual estágio da minha
vida, eu tenho que ser prático. Eu não tenho tempo para ficar paralisado. Eu
não posso me dar ao luxo de me deprimir. E a maturidade me recomenda que eu não
devo carregar uma culpa por algo que não fiz. Se acham que eu as abandonei,
então digam, vou explicar. Se acham que não as amo, então me abracem, e serão
capazes de sentir o maior amor do mundo.
Infelizmente, a responsabilidade por
vocês não terem tido uma relação comigo e com a minha família vai ter que ser
resolvida entre mãe e filhas. É isso mesmo, diretamente na raiz de todos os
problemas. Freud explica sempre!
Eu mesmo sei que parte dessa
responsabilidade é minha, porque me submeti de muitas formas a sua mãe. Aceitei
que os ursinhos que eu dei para vocês lembrarem de mim quando vocês partiram do
Brasil foram deixados aqui. Tolerei quando ligava na casa de vocês e sua mãe as
chamava se referindo a mim como “o Maurício no telefone”. Permiti jamais ter tido
um dia de férias com as minhas filhas que tem 3 meses de férias no calendário
escolar americano. Tolerei por anos só falar com vocês se ligasse no telefone
da sua mãe, mesmo muito tempo depois de Steve Jobs já ter nos disponibilizado o
Facetime.
Não entendi porque combinar um
almoço comigo para me verem e sequer me darem um beijo ou permitirem um abraço,
depois de mais de dois anos sem nos vermos. Vocês repararam que nós não nos tocamos??????
Mais de dois anos separados e nós não nos tocamos!!! Aliás, vocês não permitiram
que eu chegasse perto das duas, diga-se. A Marina não falou comigo!!! Por que o
almoço então? Para justificar virem ao Brasil para viajar para Foz do Iguaçu e
Natal e não passarem um dia com seu pai? Desculpem, girls, mas isso
chega a beirar algo patológico. E, quando vocês pagaram sua parte da conta do
nosso almoço enquanto eu fui ao banheiro, mesmo sabendo que eram minhas
convidadas e que aquele seria o único presente que eu ia poder dar para vocês, tive
certeza de que aquilo tudo tinha sido muito bem planejado por alguém. É desprezível
tudo isso que nos fazem passar, minhas filhas. Para dizer o mínimo. Sempre fui
reticente em confrontar sua mãe, por 2 motivos: 1) ela é excelente em se fazer
sempre certa; 2) sempre que eu a enfrento ela me afasta de vocês.
Mas, é isso. A vida continua.
Como lhes disse, estou absolutamente focado em reconstruir a minha vida
profissional, recomeçando nova carreira já numa idade madura. Preciso me
dedicar muito se eu quiser que daqui uns anos eu possa ter de volta algo
próximo da estabilidade financeira que um dia eu já tive. E, de posse dessa melhor
condição, que está longe ainda da minha condição atual, imagino que talvez eu
possa me reaproximar de vocês, num outro estágio das suas vidas. Indo visitá-las
de novo nos Estados Unidos, num momento que vocês estejam mais maduras e
independentes, e que eu possa contribuir mais com uma ajuda efetiva prestada diretamente
para as duas.
Agora, se esse projeto não der
certo, e mesmo até lá, gostaria que vocês entendessem que o amor não se compra
com dinheiro, valores pessoais não se forjam com matéria e relações humanas não
se constroem com posses. Ou vocês constroem uma relação sincera, carinhosa e
respeitosa com o seu pai, próxima e amiga, independente da questão financeira,
ou não teremos relação. E se a relação comigo não fizer falta, eu também vou
entender. Mas que venha de vocês, então. Não posso obrigar ninguém a querer
estar comigo. Aliás, jamais obriguei ninguém a nada.
E fico muito feliz que vocês possam pagar sua própria conta de restaurante, pois isso me diz que vocês estão tendo suas necessidades supridas, independente de minhas condições escassas neste momento. E isso não é uma vergonha para mim, porque só eu sei o quanto estou lutando para lhes fornecer o pouco que lhes dizem que eu estou fornecendo. E também espero que o passeio em Foz do Iguaçu e Natal seja maravilhoso, mesmo que vocês não venham na minha casa há, sei lá, mais de cinco anos???
Filhas, como eu já escrevi uma
vez, as portas da minha casa, do meu coração e da minha vida sempre estarão
abertas, escancaradas para vocês duas.
Mas agora é preciso que vocês
realmente queiram entrar nessa relação de verdade.
Espero vocês. Até qualquer dia.
Com amor.
Maurício