domingo, 20 de janeiro de 2019

O que nós perdemos (repostando o passado)

SÁBADO, 15 DE AGOSTO DE 2009

Sábados

Hoje é sábado.
Estamos em casa eu, Vivi e Duda. Não estamos fazendo nada demais. Apenas descansando.
No início desse ano vcs passaram a vir aqui para casa e ficarem para dormir.
No começo foi difícil. A Luiza, na hora de dormir, pedia para ir embora. E vc, Marininha, queria ficar, mas era solidária a sua irmã. Sempre companheiras!
Eu ficava muito triste. Mas, na segunda vez que isso aconteceu, entendi que não poderia forçar nada. Devia aguardar o momento que essa vontade aflorasse.
Para minha alegria e surpresa, na terceira vez a Luiza pediu para ficar. A Marina adorou! E foi maravilhoso. Dormiram, pela primeira vez, nas suas caminhas, no quarto de vcs aqui. Foi no dia da festa de aniversário do Arthur, filho do Evandro. Tínhamos ido todos juntos.
Vcs dormiram perfeitamente. Acordaram cedo no dia seguinte, vcs e a Duda, e eu acompanhei. Ficamos olhando o movimento na praça. Era o dia da corrida do Boldrini e a largada era na nossa porta.
Vcs amaram a experiência. Daquele dia em diante, vcs passaram a dormir todas as vezes em casa, sem problemas.
Normalmente, vcs vinham aos sábados e ficavam até domingo. Nós aproveitamos muito juntos. Muitos passeios, brincadeiras e alegria. Eram finais de semana muito felizes.
Hoje estou pensando se esse sábado seria dia em que vcs estariam conosco. Parei de ficar contando, após o primeiro mês da ida de vcs.
O que sei é que, com certeza, estaríamos aproveitando o dia juntos.
Amo muito vcs. Espero que o sábado de vcs seja bom.
Papai


Conclusão: foi dessa relação que se reconstruía que eu abri mão. E que vocês não tiveram também.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Meu sábado

Minhas filhas queridas,
Meus amores,
Minhas duas paixões,

Olá!
Faz tempo que o papai já não escreve para vocês.
Nem sei por onde começar a falar. Nunca reparti com vocês as agruras do trabalho e da vida distante das duas. Talvez tenha dividido um pouco, mas a riqueza de detalhes do dia a dia é uma coisa que nós não pudermos ter em nossas vidas. Fico triste, pois nos perdemos nos detalhes. Minha esperança é que dizem que isso ainda vai acontecer.
Estou aqui pensando em vocês. Pensar na vida é pensar em vocês. As duas fazem parte da minha rotina, da nossa rotina aqui. É uma pena que vocês não se deixem viver uma vida próxima a mim.
É o que está acontecendo agora. Estamos distantes em uma fase ainda mais relevante da vida de vocês.
Não consigo me chegar. Sei que há espaço, vontade, mas ainda não está acontecendo.
Para completar, o papai perdeu o emprego no final do ano passado. Não posso dizer que seja algo que esteja me fazendo muita falta, exceto pela segurança. Mas eu estava me doando ao trabalho muito mais do que devido. Sem qualquer reconhecimento, diga-se. Contudo, felizmente eu estava preparado e maduro para esse momento. Agora eu preciso colocar os planos em prática.
Enquanto as coisas não se concretizarem, ou se elas não se concretizarem, minha vida é um misto de certeza e cautela. Vocês são minha certeza.
Estou triste com o mundo de forma geral, mas ainda mantenho a fé inabalável no mundo melhor. Infelizmente, a decepção com pessoas próximas a vocês é algo que eu tenho tido dificuldade de lidar. Isso me preocupa. Isso me afasta de vocês.
Conversei com sua mãe. Precisava rever nosso acordo. Em vários sentidos. Mas só seria possível pela via judicial. Sempre tentei evitar essa via. Pela primeira vez estou considerando essa possibilidade. Vou estudar esse assunto. E eu não estou pensando na questão financeira que impacta atualmente, mas na nossa proximidade acima de tudo. Eu sinto que só assumi responsabilidades e perdas por uma escolha que não era minha. Pelo contrário, apoiei de forma crucial, mas não tive qualquer consideração por minhas concessões.
Reconheço coisas boas em vocês, sem dúvida. Mas minha sensibilidade não se instalou em suas vidas. Ou sim, e vcs sufocam, tal como eu também fui sufocado.
Espero que vocês possam me entender um dia também.
Essa carta, ou essas cartas, são um pedido de sua atenção para um amor que não pode ser sentido.
De qualquer forma, continuo orgulhoso pelas meninas que vocês são, por suas habilidades, inteligência, comprometimento... esportistas, estudiosas, viajadas... uma vida muito maior do que eu tive, em um tempo recorde. Fico realmente admirado e feliz pelas duas. Sou grato por tudo que receberam e recebem. Que bom que vocês tem essa família que as ama tanto. Reconheço que o modelo de família que vocês dispõe é muito estável, perfeitamente ajustado ao ambiente americano. Isso foi uma grande oportunidade.
Viajando nesses últimos dias eu tive um contato muito especial com filhos que conviviam sem os pais. Sei que não as abandonei, que não fugi as minhas responsabilidades, que estive distante, mas não pela minha vontade. Mas também refleti que eu talvez não tenha sido um bom pai, entretanto teria sido o melhor professor e tutor. Ou a falta de vocês por perto me anulou como pai também e eu não me desenvolvi nesse sentido como devia.
Só quero estar um pouco mais próximo de vocês daqui para frente.
Precisava escrever um pouco. Dar esse abraço, colocar essas coisas fora do peito e da mente.
Precisava de um pouco de intimidade e proximidade com vocês.
Fecho os olhos agora e as abraço muito forte.
Amo as duas. Muito.
Abraços de urso sempre.
Papai