Minhas filhas, olá.
Espero que as duas estejam bem enquanto escrevo essas palavras.
Espero que as minhas palavras cheguem até vocês algum dia.
Quando digo que espero que vocês leiam minhas palavras, não digo isso apenas no sentido de que vocês tenham contato com elas. Não digo somente no sentido de vocês simples e meramente as lerem. Digo em um sentido mais profundo, de que vocês tenham contato com elas e as compreendam nos intensos sentimento que elas carregam.
Há muito tempo já não nos falamos. Recebi um "oi" da Luiza outro dia. Confirmando aqui, foi em 12 de outubro. Recebi um obrigado pelas minhas felicitações pelo dia das crianças. No presente momento, receber uma resposta tão ínfima foi uma alegria. Pelo menos eu me senti lembrado. Senti que, ao menos em um instante, eu recebi um sorriso da parte de vocês.
Eu havia ligado para vocês para conversarmos, mas nenhuma das duas me atendeu, como de costume. Pelo menos uma vez na semana eu ligo para ver se me atendem. Há muito tempo isso não acontece. Retornar, então, jamais. Acabei mandando os meus "parabéns" pelo WhatsApp mesmo. E apenas a Luiza respondeu. Aliás, é isso que tem acontecido. Mando minhas mensagens, sei que vocês as leem e, então, quase jamais retornam.
Com o aniversário de vocês chegando, fico imaginando como vai ser quando eu ligar para falar com as duas.
A partir do momento que eu coloquei sua mãe de lado como ponte do nosso contato foi assim. E, após eu precisar pedir a revisão da pensão alimentícia, nosso relacionamento acabou. Triste que vocês tenham crescido numa família com esse espírito. Eu apenas lamento muito. Mas eles as criaram e também não deixo de agradecer por isso.
A Luiza ainda parece ter um pouco de carinho por mim. Já você, Marina, sinto como se fizesse questão de transparecer sua completa frieza acerca da nossa relação. Eu rezo para que Deus toque seu coração minha filha e tire esse seu sentimento de indiferença da sua personalidade.
Eu não vou mentir, meninas. A verdade é que tenho experimentado um sentimento muito triste. Tenho me sentido tão rejeitado a ponto de pensar que não é mais certo continuar mantendo contato com vocês. Sinto-me cada vez mais colocado de lado. Na verdade, sinto que estou sendo tão ignorado que estou mesmo incomodando as duas. Tento não pensar, mas confesso que continuo sofrendo com essa nossa situação e com essa forma das duas me tratarem. Sei que não mereço, mas também não tenho condição de brigar com as duas por causa disso.
Ao mesmo tempo, penso que não posso virar as costas para minhas filhas quando sei que tudo isso que vocês sentem é culpa de uma pessoa com a mente confusa e que colocou ideias erradas sobre mim na cabeça de vocês.
Sem dúvida, a ausência de vocês na minha vida foi algo muito duro para eu lidar. Provavelmente, as duas terem crescido achando que eu as abandonei também foi muito duro para vocês. Dói muito ser tão ignorado por ambas, especialmente sem ter pelo menos a chance de explicar tudo de errado que vocês cresceram sentindo equivocadamente por mim. Talvez essa seja justamente a estratégia: evitando falar do assunto, também ficam impedidas de saber a verdade das coisas.
Sinceramente, as pessoas sempre me disseram que isso ia passar. Eu acreditei e não lutei da forma como a influência negativa que vocês sofreram requeria. Isso foi minha culpa. Eu achei que sua mãe mudaria.
Na verdade, meninas, é dessa forma que eu tenho vivido. Tenso, inquieto e triste. A perda do emprego pela briga com o chefe, o insucesso no meu empreendimento pessoal, a perda completa do contato com vocês, a falta crônica de dinheiro atual e a árdua retomada de uma nova profissão estão tirando minhas forças. A economia brasileira se afundando, um presidente louco, e eu completamente calado tolerando as bobagens que falam ao nosso redor silente. Realizei tantas coisas nos últimos três anos e só consigo sentir que estou patinando e batendo a cabeça. Eu quase sinto como se Deus tivesse me abandonado. E, tanto mais eu analiso, vejo que tive revezes, mas jamais fiz nada desabonador, inadequado ou maligno. Trabalhei, fiz as coisas certas, consegui ter boas visões, construir projetos legais, realizar coisas boas com as pessoas. Fui correto e honesto. Mas não dei sorte, meninas. E não tenho conseguido recuperar meu bom astral.
Preciso recuperar a alegria, meninas. Sinto que se tivesse vocês do meu lado isso poderia ajudar. Sonho com isso. Sonho conosco juntos novamente.
Queria que soubessem que se algo bom me sobrou, esse algo é o amor por vocês.
Um beijo com todo meu amor.
Papai Maurício
PS: há uns dias atrás entrei no Instagram da Marina. No perfil dela há um link para um tipo de álbum virtual de fotografias. Essa parte é pública e eu consigo acessar mesmo não sendo da rede das duas. Entrei e fiquei olhando as fotos. Na vida toda de vocês eu NUNCA vi uma foto minha com as duas. Nem no seu quarto, em qq. álbum, em rede social (nunca me aceitaram), em qualquer lugar. Confesso que senti uma "inveja" grande das fotos em que vocês aparecem com o Rick. Na verdade, tive ciúme do quanto vcs o amam. Sei que ele parecer ter sido um bom "pai" para vcs. Espero que ele tenha sido mesmo. Uma pessoa boa de verdade influenciando positivamente em suas vidas. A pessoa que eu poderia ter sido, se vocês estivessem perto o suficiente para eu ter oportunidade. No fundo, não tenho ciúme dele. Acho mesmo que sou agradecido por ele ter cuidado de vocês quando eu estava impedido de fazê-lo. Mas o fato de vocês só sentirem isso por ele como se ele fosse o único que as ama é algo significativo. É fruto de toda essa má orientação que receberam. O fato de me apagarem das suas vidas é o maior sinal do quanto há uma intenção deliberadamente sórdida de me afastar de vocês. Aliás, apagarem a mim, a Tia Vivi e a Duda também. Vocês um dia vão perceber isso, meninas.
