Eu sempre gostei de ter um "canto".
Por morar numa casa grande na infância, por meus irmãos terem saído de casa muito antes de mim e pela minha mãe ter me incentivado a ser independente desde cedo, logo tive meu próprio quarto e comecei a ir guardando as coisas que considerava importantes.
Bem, eu ainda mantenho o hábito de guardar certas lembranças em um espaço apropriado de casa.
E na porta do meu escritório ainda estão penduraras as lembranças que vcs me fizeram quando estiveram me visitando durante um aniversário. Bilhetes carinhosos, desenhos e enfeites que a vovó Cida ajudou vcs a fazerem e a pendurarem no lado de dentro da porta. Eu olho aquilo e vejo o quanto eu as amo e o que perdemos.
Acabo de olhar essas coisas e meu coração se encheu de amor e tristeza. Notei tudo que nos foi tirado.
Meu "canto" está repleto de lembranças de vcs. Lembranças de quando vcs ainda me viam como pai. Não fui eu quem se afastou, mas vcs que foram levadas para longe. Não deixei de ser presente, mas minha presença sempre foi considerada como sem importância. Minhas deferência e respeito a escolha de sua mãe foi tornada renúncia do meu desejo de estar com vcs.
O que temos hoje é somente reflexo dessa situação. A frieza, a distância, a falta de intimidade, o pouco carinho e a ausência de contatos de vcs para comigo e sua família daqui é só reflexo daquilo que foram condicionadas. É uma pena, porque acho que isso ainda vai fazer diferença para suas vidas.
Mas, não se preocupem. Sem dúvida, nada disso é culpa de vcs. E vcs tem sido muito hábeis ao lidarem com a situação. Acho que sentem as diferenças.
Seja o que precisarem, quando precisarem, sempre poderão me procurar e buscar apoio. Estarei aqui, em vida ou em palavras.
Amo muito vcs. Queria que estivessem aqui.
Um beijo enorme.
Papai
24 - 01- 2016
Acabo de notar, ao datar essa carta, que hoje é o aniversário de falecimento do seu vó Alexandre -32anos.
Nada nessa vida acontece sem razão.
