domingo, 12 de março de 2023

A primeira de 2023

Marina e Luíza, olá.

- Normalmente aos domingos costumo ligar para vocês. Vou fazer isso agorinha mesmo. Ligando às 18h45, hora Brasília, em 12/03/23. Liguei. Enquanto o telefone chamava, fiquei pensando que dessa vez você ia me atender, Luiza. Errei. A Marina eu realmente perdi a esperança. A Marina eu nem espero que me atenda mais. Há muito tempo já percebi que você faz questão de dar a entender que não quer falar comigo. O telefone toca uma vez às vezes e você recusa a ligação. Ou seja, vocês sabem que estou ligando, jamais me atendem, fazem questão de demonstrar que não querem falar comigo e nunca me retornam. Não me lembro mais a última vez que falamos. Isso é uma chaga na minha alma, minhas filhas. Não acredito que eu possa ter plantado esse sentimento dentro de vocês. Esse pensamento me mantém vivo.

- Mas eu poderia estar errado e nem saber. Se vocês um dia puderem me explicar, vou estar pronto para ouvir. Talvez eu tenha cometido algum mal que eu não compreenda exatamente pelo prisma de vocês duas, ou alguma coisa que eu não compreenda o sentimento que causei em vocês. Eu esperava que a gente pudesse conversar e vocês me perdoassem, por favor. Mas eu sou muito confuso também pela resistência que as duas possuem a conversar de uma forma transparente comigo.   

- Hoje consegui ligar para um amigo. Foi importante para mim. Trabalhei desde às nove e meia da manhã até umas 17 horas. Achei que era importante eu escrever essa carta para as duas. Acho que está na hora de dar umas notícias.  

- Racionalizar o que sinto de saudade de vocês é um exercício diário de equilíbrio. Tá sendo muito difícil para mim essa frieza que sinto de vocês. Não sei o que vocês pensam de mim, mas não vejo o que fiz para ficarem sem falar comigo. Como não sentirem necessidade de esclarecer tanta coisa importante que deve ser dita sobre nós três. O que se passa em vocês sobre a minhas condições e iniciativas? Eu fico muito preocupado com vocês. E conosco também.

- Confesso que pensei em abandonar tudo uns dias atrás. Eu fiz esse exercício. Como seria acabar de repente com tudo?? Será que ia tirar o peso que sinto nos ombros?? Foi duro dar conta das notícias dos últimos tempos, das mudanças, das chateações e incertezas. O problema com a pensão de vocês também me chateou muito. Na verdade, está me destruindo.

- O processo terminou. Ou quase. A justiça diz que não é 4, nem é 2. É 3. Agora devo 50, mais um a mais daqui para frente. Se eu tivesse não seria problema nenhum, nunca foi nos tempos das vacas gordas. A questão é que eu não tenho já faz tempo. Eu sinceramente não sei o que vai ser. Fico triste de não poder fazer mais nesse momento, meninas.   

- E estou começando numa nova empreitada. Vou começar um novo trabalho. Tive que pedir demissão do Antoniel, sem qualquer benefício, e vou começar um novo trabalho com a Inês. Não sei como será exatamente, mas estou animado filhas. Apesar de vocês acharem que sou um advogado com inúmeras rendas ao que parece, o que fiz até agora foi trabalhar duro e estudar bastante, para tentar ser um advogado.   

- Mas eu sou resiliente. E preciso continuar seguindo. Eu estou acostumado a lutar e enfrentar dificuldades dos mais variados tipos. E depois de ver a Vivi (e mesmo o Antoniel também) sofrendo com a doença de novo sem esperar, a gente repensa as coisas e vê que tudo que a gente tem não é nada sem saúde. E que tudo na vida a gente consegue dar um jeito se tiver saúde.

- Nesse sentido, confesso que o meu autoboicote alimentar não deixa de ser um ato de puro desrespeito, terrorismo, sabotagem e falta de amor próprio pessoais. Por que é que eu sou assim?? Estou me matando lentamente. Tudo pelo prazer momentâneo da satisfação do estômago. Quem sabe eu consiga definitivamente querer cuidar melhor de mim definitivamente. Tento mudar e fraquejo. Mas a minha vida anda com muitos poucos prazeres também tirando a barriga cheia. Chato dizer isso, mas é verdade.

- Tem muita coisa legal que acontece também. Tenho trabalho, tenho perspectivas, Vivi está bem, Duda tá tranquila, tornei-me um bom advogado trabalhista, fiz muita coisa boa sempre, estou com uma equipe muito legal agora, continuo aqui falando com as minhas filhas (enquanto olho as fotos de vcs nos porta-retratos do escritório). Não cultivo maldade nem desamor. Sou angustiado sim, mas é porque não consigo fingir nada. Se não posso ajudar, também não atrapalho. Ajudo todo mundo que eu posso. Luto todo dia um bom combate. Espero e confio no que o melhor se construa.

- Vou ver a vovó agora. Ela está velinha, mas tá firme. Ela sente falta de vocês. Até ela vocês deixaram de lado. Triste, meninas.

- Eu sinto muito que eu e a sua mãe não consigamos manter uma relação legal. Sei que ela e vocês tem uma relação intensa. Não tenho nada contra, pelo contrário. Apenas, particularmente, tenho meus sérios motivos para ter restrições às condutas dela sobre mim e perante vocês. E vejo que foi um erro permitir que vocês duas ficassem sozinhas sob a influência deles. Mas isso é uma questão difícil de comprovar e eu fiquei muito tempo silente sobre essas coisas. Agora só colho os prejuízos. Por outro lado, tinha esperança que isso mudasse um dia. Foi sempre nisso que investi. E agora só colho prejuízos junto a vocês. 

Espero que estejam bem e com saúde. Desejo que tenham uma boa semana. Espero que tudo esteja correndo bem com as coisas da faculdade. Amo muito vocês duas. Que esse seu Deus as proteja. E o meu também.

Beijos.

Papai?