sábado, 20 de janeiro de 2024

2024

Meus amores, olá.

Feliz ano novo para vocês duas. Que 2024 seja um ano especial e de grandes realizações para nós.

Os últimos tempos tem sido de muitas inquietações, mas também de algumas alegrias. 

Sei que nós três ficamos longe de ser uma família. Apesar de ser pai de vocês, já não temos um relacionamento significativo. Isso é uma das coisas mais tristes que eu carrego dentro de mim.    

Foi incrível receber uma ligação sua, Lu. Foi A coisa mais feliz que me aconteceu nos últimos anos. Conversar com você foi absolutamente maravilhoso. Ouvir sobre a sua vida me fez muito bem. Estou por aqui quando essa vontade acontecer novamente. 

E, pensando nessa nossa relação de pai e filhas, lembro que esta é uma época muito significativa para mim. Meu pai morreu num 24/01/1984. Eu, que costumo ser péssimo nos detalhes das memórias, consigo reviver precisamente aquele dia. E neste ano completa 40 anos da morte dele. Eu tinha 9, ia fazer 10 anos. Hoje tenho 49, perto de completar minhas 50 primaveras.

Crescer sem pai foi muito duro para mim. Claro que me virei, tive uma família incrível me ajudando, especialmente minha mãe e minha irmã. Meus irmãos foram pessoas importantes também. O Xande foi um irmão querido na infância. O Beto o irmão que me apresentou o mundo na adolescência. Deu tudo certo. Mas era meu pai, né. É natural que uma perda assim, especialmente de forma violenta, gere um vazio. E muita saudade. Uma saudade imensa.

A perda só não foi pior porque minha mãe estava separada dele e eu o via pouco. Então, já estava acostumado sem uma presença constante dele. Com a morte, a ausência só se tornou definitiva.

Recentemente me dei conta de que acabei me afastando da família do meu pai. Nada demais, apenas os caminhos da vida. Nada comparado com os motivos que nos separaram. Mera falta de proximidade, convívio. Imaginem que, se eu me sinto apartado deles, vocês duas sequer imaginam a imensa família que têm por aqui nessa linhagem.

Recentemente reencontrei um tio. Um irmão querido do meu pai. Vinha sentindo uma necessidade imensa de reencontrar a família do meu pai. Era uma coisa de sangue, espiritual. Um chamado ecoando dentro de mim. Foi difícil da gente conseguir se ver. Quando finalmente deu certo, acho que eu fiquei perdido. Senti tanta coisa naquelas horas de conversa. Engraçado que estávamos há tanto sem realmente conversar que, praticamente, apenas nos reconhecemos. Olhava para ele enquanto falávamos e via meu avô, meu pai, outros tios. Via minha família. Era tanta gente junta na minha frente que ele representava. Foi um reencontro emocionante para os dois. E isso tudo aconteceu bem na véspera desse aniversário de morte do meu pai. Só fui me dar conta disso depois do encontro.

Acho que eu passei a vida toda tentando esquecer o impacto que a perda precoce do meu pai causou na minha pessoa e no meu processo de formação. E, agora, eu não preciso mais esconder nada. Eu sofri e sofro muito pela ausência de um pai para abraçar e beijar.

Já vocês duas parecem optar por não me quererem perto. Filhas, meus amores: seu pai nunca se separou de vcs. E se foi isso que ensinaram para as duas, saibam que as ensinaram errado e de maneira maliciosa. 

Continuo aqui de braços abertos, de coração aberto, de peito aberto, de espírito livre, pronto para ser o pai que vcs possam precisar a qualquer hora. Amo muito as duas. 

Seu avô morreu trabalhando, no cumprimento do dever. Pretendo seguir a mesma carreira dele em breve, se for isso que os Deuses planejarem. 

Tem uma reportagem muito legal dele no link que lhes envio. 

Abraços de urso. Sempre e sempre. 

Beijos. Amo vcs.

Papai.


https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0702200409.htm