quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Texto da lista da Família Corrêa

Reflexões pós almoço
Ou algo próximo de um conto de Natal, família, vida...

Aqui da minha salinha (protegido por divindades da Saúde de vários povos diferentes), procuro administrar, dia após dia, um negócio que precisa durar indeterminadamente (até para que eu tenha algo para administrar - e ganhar para isso!), mas cuja natureza é absolutamente aleatória, pois prevê receitas determinadas e despesas imprevisíveis (já tentei convencer as pessoas de que elas não podem ficar doentes, ou de que elas precisam se programar para isso, mas ainda não tive sucesso). Assim é a o "negócio" da assistência médica. Nem os Estados Unidos conseguiu fechar essa conta ainda.
Além disto, trabalho com duas classes de pessoas: juízes e médicos. Uns acham que são deuses; os outros têm certeza. Não importa muito a ordem mencionada, até porque, particularmente, acredito que os dois grupos têm certeza de sua origem divina.
Desta maneira, sinto-me, por vezes, menos Gestor de Sistemas de Saúde (carreira ainda não regulamentada legalmente, o que faz com que eu precise me declarar "Advogado") e mais um Administrador da Doença ( e, às vezes, Desgraça). Ai, ai... como eu queria um emprego no Pânico...
Estou ao telefone. Um desembargador precisa fazer uma troca de válvula cardíaca e, possivelmente, ponte de safena, no mesmo ato. Há duas equipes disponíveis, ambas de professores doutores titulares de cátedra correspondente em renomadas universidades paulistanas. Os possíveis hospitais são os de costume: Sírio, Oswaldo Cruz ou Einstein. Minha tarefa é resolver (gerenciar) essa equação, organizando as diversas e complexas operações envolvidas, obtendo um resultado satisfatório (???), que seja absorvível pelo sistema. Fácil.
Ah!!! Na outra ponta da mesa tem o caso do desembargador de 90 e tantos anos, hoje com 46 quilos, Alzheimer avançado (é tia Nena, juro que entendo seu fardo - e admiro, incondicionalmente, tua dedicação), semi-abandonado pela família, deixado numa casa de repouso onde adquiriu enormes escaras em oito lugares diferentes do corpo e que, há três meses, está num hospital, ao custo de R$ 3000/dia. Hoje ele recebeu alta. A sina desse homem na Terra, por incrível que pareça, ainda deve durar um bom tempo, e é minha obrigação cuidar dele, por uns R$ 12000/mês, oferendo cuidado e acolhimento devido, num outro local, a partir de agora sob fiscalização de minha entidade. É o que chamamos de "cuidados na terminalidade da vida".
E, assim, acredito que todos nós estejamos, em algum lugar, preocupados com trabalho, casa, filhos, contas, etc etc etc. Onde quer que estejamos, somos peças de uma grande engrenagem que há de continuar sempre girando.
É por isso que não me esquivo de pensar, falar e escrever sobre bobagens. Ou de fingir uma pseudo-boiolagem. Ou de fazer uma piadinha sacana. Ou de fazer graça com situações nem tanto engraçadas (o Tio Paulo um dia vai contar a estória da foto). Não me esquivo de buscar alegria e leveza nessa vida, nesse momento, porque imagino que esta existência, via de regra e de forma geral, já deva comportar suficiente seriedade.
Faço isso porque sei que o amanhã é apenas expectativa.
Faço isso porque, aqui, eu estou com minha FAMÍLIA.
Família, que ajudou, sim, na construção da minha pessoa, da qual carrego ternas lembranças, grandes lições e fortes exemplos humanos.
Quero ter tempo para tudo, inclusive para vocês.
Quero que minhas filhas aprendam com esse "clã", ao qual também pertencem, não porque somos sangue, não porque temos laços genéticos, mas por isso também e, principalmente, porque creio que exista, em nossa reunião, concreto aprendizado sobre o amor, a arte, o respeito, a alegria, a retidão, a justiça, o trabalho, a ética, a fraternidade, o posicionamento diante das coisas, a diferença e tantas coisas outras mais.
Viemos todos da mesma cloaca e, se não piamos uníssonos, pelo menos que cisquemos sempre juntos!
E, agora que cariocas e baianos já voltaram a trabalhar, vou trabalhar também, antes que eles terminem o expediente.
Beijos despeitados
Maurício

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